Guerra Civil: o desconforto de enfrentar a si mesmo em meio ao caos

Guerra Civil: o desconforto de enfrentar a si mesmo em meio ao caos. Mais um filme com o nosso Wagner Moura arrasando. A história se passa em meio a uma guerra civil nos Estados Unidos, que devastou grande parte do país, deixando milhares de desabrigados e feridos. A dupla de jornalistas de guerra vivida por Kirsten Dunst (fotógrafa) e Wagner Moura (colunista) tem a missão de entrevistar o Presidente do país, prestes a fazer sua última declaração antes de se entregar ao inimigo e dar a guerra como perdida.


A missão dos jornalistas

Para você se situar:

Feito o contexto, vamos aos personagens: a protagonista Lee Smith (Kirsten Dunst) é uma fotógrafa de guerra experiente, com uma longa trajetória na documentação de conflitos. Ao seu lado na missão está Joel (Wagner Moura), um jornalista também habituado a cobrir esse tipo de pauta. A ideia inicial é que os dois cruzem os Estados Unidos até a Casa Branca e consigam uma entrevista bombástica com o Presidente.


As “pedras no sapato”

Só que, no meio do caminho, surgem duas figuras — a princípio aleatórias — que insistem em acompanhá-los: a jovem fotógrafa Jessie (Cailee Spaeny) e o veterano jornalista Sammy (Stephen Henderson). Eles acabam se tornando as famosas “pedras no sapato” dos protagonistas, nessa jornada cheia de perigo e tensão.

Definindo as pedras:

Jessie é uma guria super inexperiente — não só na fotografia, mas na vida. Vê ali uma chance enorme de aprender com Lee, sua referência profissional (ídola). Jessie não entende nada de guerras… é uma menina de vinte e poucos anos, ansiosa para viver novas experiências, cheia de energia. Está naquela fase da vida em que a gente não pensa muito, só vai.

Sammy é um velho jornalista experiente, que conhece bem Lee e Joel por já ter trabalhado com eles no passado. Cansado, com dificuldade de locomoção (usa bengala), ele pede para acompanhá-los nessa viagem, mesmo sabendo que será um desafio físico e emocional.


O caos da viagem

A viagem, como era de se esperar, é caótica. Afinal, estamos em guerra. Tiroteios, ameaças de morte, insegurança total o tempo todo. E é aí que a sensibilidade do filme Guerra Civil começa a aparecer. É preciso documentar tudo isso e, ao mesmo tempo, cuidar de Jessie e Sammy.

Jessie está encantada com a ideia de trabalhar lado a lado com sua musa inspiradora e tenta aproveitar ao máximo as “aulas práticas” de fotografia em campo. Sammy, ciente de suas limitações, tenta não atrapalhar — o que não é nada fácil, considerando os perrengues que vão de dormir no carro até andar ao lado de snipers em ação.


Espelhos e contrastes

Uma das coisas mais interessantes do filme Guerra Civil é perceber o contraste entre as mulheres. Lee é brutalizada pela vida e pela profissão. É resiliente, mas dura e inacessível. Jessie é o oposto: livre, curiosa, impulsiva. Ela é a Lee de 20 anos atrás — e por isso causa tanto desconforto. É um espelho que Lee não está preparada para encarar.

Sammy, por outro lado, chega com o estereótipo do idoso no fim da carreira, sem mais o que contribuir. Mas surpreende. Com sua sabedoria, experiência e coragem, acaba sendo decisivo para os acontecimentos. Uma voz que, definitivamente, valeu a pena ouvir.


Reflexões sobre identidade

O filme desperta sentimentos desconfortáveis, especialmente por meio da presença de Jessie e Sammy na viagem. O incômodo de Lee com a novata é um reflexo do que ela deixou para trás — um comportamento que hoje julga como impulsivo e ingênuo.

Fica evidente como nossa forma de ser vai sendo moldada pelos eventos da vida. E, muitas vezes, nos tornamos versões de nós mesmos bem diferentes das que imaginávamos.

Quando nos deparamos com alguém tão parecido com nosso antigo eu — cheio de esperança, planos, espontaneidade — isso escancara tudo aquilo que deixamos de lado. E aí a pergunta que fica é:
Gostamos da pessoa em que nos tornamos?
Aquilo que esquecemos poderia ser retomado?
Será que ainda dá tempo?

Onde assistir:

Amigos Imaginários: como a amizade imaginária na vida adulta pode nos reconectar com quem somos

Amigos Imaginários: como a amizade imaginária na vida adulta pode nos reconectar com quem somos

Por que eu assisti?

Não foi por um motivo nobre: só queria passar umas duas horas vendo gente bonita — nesse caso, Ryan Reynolds. Mas confesso que o filme Amigos Imaginários me surpreendeu. Tantas camadas de encantamento, sensibilidade e poesia que, no fim das contas, a beleza dele nem me abalou (embora ele estivesse entregando tudo, como de costume).

Enredo com spoiler: reencontros que curam

A história gira em torno de Bea, uma menina que perde a mãe ainda criança. Anos depois, aos 12 anos, ela volta a Nova Iorque com o pai, que está prestes a passar por uma cirurgia delicada. Bea se hospeda com a avó e, no prédio onde mora, encontra Cal (Ryan Reynolds), uma bailarina inseto chamada Blossom, e Blue — uma pelúcia gigante e desengonçada. Todos eles são amigos imaginários esquecidos.

Ao conhecê-los, Bea descobre a missão: reconectar esses seres extraordinários às crianças que um dia os imaginaram.

A busca pelos vínculos perdidos

Bea decide ajudar. Com muita dedicação, tenta combinar perfis emocionais dos amiguinhos com novas crianças. Mas tudo dá errado. Nenhuma reconexão acontece. Frustrada, Bea retorna para casa e encontra sua avó, que revela ter sonhado em ser bailarina.

E então tudo faz sentido: Blossom, a boneca bailarina, era sua amiga imaginária. A avó dança ao som de uma música clássica e, nesse gesto sensível e sincero, a luz da boneca se acende. Elas se reconectam — e ali foi onde meu choro começou de verdade.

Um abraço na insegurança

Outro momento que me emocionou: a reconexão de Blue com seu “dono”. Um homem adulto, inseguro, meio desajeitado — um espelho exato de Blue. Ele está nervoso para uma reunião importante, e Blue aparece para dizer o que todos gostaríamos de ouvir nessas horas: “vai dar tudo certo”.

É isso que a amizade imaginária na vida adulta representa: um suporte emocional legítimo, uma extensão da nossa fragilidade mais humana.

E a Bea? E o pai dela?

Cal, todos os amigos imaginários e Bea vão ao hospital acompanhar o pai. Quando ele acorda, ela se alivia — mas percebe que os amigos já não estão mais ali. Só então entende: Cal era seu próprio amigo imaginário.

A cena final, com ele voltando vestido de palhaço e entregando uma flor feita de balões, é de arrebentar qualquer estrutura emocional.

Reflexão: nossa criança interior nunca nos abandona

Fiquei ali, catatônica, vendo os créditos subirem, até conseguir escrever isso.

A mensagem do filme é simples, mas profunda: nosso corpo cresce, assumimos boletos, filhos, trabalho. Mas a criança continua ali. Esquecê-la nos endurece. Ignorá-la nos desconecta.

A amizade imaginária na vida adulta pode parecer tola à primeira vista. Mas, na verdade, é a voz mais autêntica da nossa essência. Aquela que sabe exatamente do que temos medo, o que amamos e o que perdemos.

Dar ouvidos a essa voz pode ser o primeiro passo para voltar a viver com verdade, e não apenas sobreviver.

Onde assistir Amigos Imaginários: